quarta-feira, 12 de maio de 2010

Bullying não é brincadeira


Andreia Pereira

Na algazarra dos recreios da escola, há crianças que sofrem em silêncio pelos maus-tratos perpetrados pelos colegas. As vítimas de bullying - um fenómeno que tem ganho algum protagonismo em Portugal - raramente oferecem resistência. E, perante os abusos infligidos, apenas respondem calados, com medo de retaliação.

 

Agridem os colegas da escola, humilham-nos em público e exercem chantagem psicológica e emocional. Será que se trata de brincadeiras de crianças e próprias da idade? Para a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, estes comportamentos apontam para algo que está errado. "O humano é um ser gregário, por isso, há que avaliar as situações em que a relação com o outro se encontra marcada por um carácter agressivo."
Introduzido nos países escandinavos, no início da década de 80, o termo inglês "bullying" tem sido alvo de estudo nos últimos anos. O conceito define "comportamentos de natureza agressiva, entre pares, com a intenção de provocar dano", diz Sónia Seixas, doutorada em Psicologia e autora de uma tese sobre bullying em contexto escolar.
A psicóloga indica, porém, que, embora este fenómeno tenha ganho eco nos últimos anos, o comportamento em si não é novo. "Há, agora, um olhar mais atento e direccionado para estas práticas", explica. Ana Vasconcelos defende, ainda, que "sempre houve brigas entre miúdos". Mas, no caso do bullying, a violência não é pontual. "Estes comportamentos repetem-se no tempo", adianta a pedopsiquiatra.
E o que está na base desta violência gratuita? "Há alturas em que a criança, para se sentir segura, precisa de mostrar aos outros que é mais forte", afiança Ana Vasconcelos. E completa: "O bullying pode ser encarado como uma forma de exorcizar os medos." Para garantir a conquista pelo poder, "os agressores vão detectando as suas vítimas nos recreios da escola". O bullying baseia-se, por isso, numa luta desigual: há uma vítima e um agressor (também conhecido por bully). Segundo a pedopsiquiatra, as vítimas são, normalmente, "miúdos emocionalmente retraídos e com menos capacidades para encontrarem soluções ou fazerem queixa".

 


 
A psicóloga Sónia Seixas diz que nestes comportamentos "está implícita uma desigualdade de estatuto e de poder entre os alunos envolvidos". E, no contexto escolar, todos os motivos são válidos para colocar a vítima numa situação de inferioridade. "O agressor exerce a sua supremacia através da força física, pelo facto de ser mais velho, de ter mais popularidade na escola e de ter um grupo de pares mais alargado. Contrariamente à vítima, que, regra geral, é um aluno mais negligenciado, mais rejeitado e com menos amigos que o defendam."
Silêncio dos "inocentes"

O que diferencia um comportamento de bullying de outros comportamentos? Pode-se extrapolar um episódio de violência esporádica e apelidá-lo de bullying? Os critérios de "intencionalidade e agressividade sistemática" são aqueles que, na opinião de Sónia Seixas, "ajudam a distinguir o bullying de outros actos ofensivos".
Fonte bibliográfica: http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt/action/2/cnt_id/2231/

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